Desperdício Alimentar

O que é?

O mundo produz alimentos em quantidade suficiente para todos, o que é extremamente frustrante porque vemos pessoas famintas a sofrer, mas ao mesmo tempo toneladas de alimentos a serem deitados fora todos os dias. De acordo com a FAO, cerca de um terço de todos os alimentos produzidos globalmente são desperdiçados anualmente. No contexto nacional, o Projeto de Estudo e Reflexão do Desperdício Alimentar (PERDA) estima que em Portugal 1 milhão de toneladas de alimentos são desperdiçadas por ano, sendo 324 mil toneladas provenientes dos consumidores. 

Além de que seria possível alimentar milhares de pessoas que passam fome se os excedentes fossem direcionados corretamente, o meio ambiente também sofre com o desperdício. Os alimentos não consumidos acabam em lixões, produzindo metano, um gás de efeito estufa mais forte que o dióxido de carbono. Anualmente, 1.3 biliões de toneladas de alimentos são desperdiçados, juntamente com 1.4 milhões de hectares de terras e 350 km³ de água. As emissões de CO2 atingem 3.3 bilhões de toneladas por ano devivo ao desperdício alimentar.

 

Quando ocorre?

O desperdício alimentar é um problema que ocorre em todas as etapas da cadeia de produção, desde a colheita até ao consumo final. Isto acontece devido a diversos fatores, como padrões de consumo excessivo, práticas agrícolas ineficientes, logística deficiente e datas de validade arbitrárias. Por exemplo, alimentos podem ser deitados fora devido a padrões de qualidade estabelecidos pelo mercado, que rejeitam frutas e vegetais com formas “imperfeitas” ou tamanhos fora do padrão estético. Durante o transporte e armazenamento, alimentos podem ser danificados ou perdidos devido a problemas logísticos. Além disso, nos supermercados, muitos alimentos são descartados simplesmente porque atingiram uma data de validade arbitrária, mesmo que ainda estejam próprios para consumo.

 

Soluções

Para resolver o problema do desperdício alimentar, é necessário implementar uma variedade de soluções em diferentes níveis, desde políticas públicas até atitudes individuais. É crucial implementar políticas que incentivem a redução do desperdício alimentar em todas as etapas da cadeia de produção e distribuição, tal como desenvolver programas que permitam a redistribuição de alimentos excedentes para comunidades carentes em vez de serem deitados fora. Também é importante adotar uma abordagem económica que priorize as necessidades humanas em vez do lucro desenfreado. No âmbito local, iniciativas incluem supermercados que vendem produtos próximos do prazo de validade com descontos significativos, como o WeFood, na Dinamarca, e o Good After, em Portugal. Além disso, projetos voluntários, como ReFood, Zero Desperdício, Dose Certa e Fruta Feia, trabalham para aumentar o aproveitamento de sobras de alimentos e promover a redistribuição para famílias carentes. No entanto, a mudança começa com pequenas atitudes individuais. Fazer uma lista antes de ir às compras, verificar os prazos de validade dos produtos, organizar a despensa e o frigorífico, comprar produtos frescos e congelar o excesso, e aproveitar as sobras para criar novas receitas são medidas que podem fazer uma grande diferença. 

Globalmente, a redução do desperdício de alimentos tem sido referida como uma iniciativa chave para alcançar um futuro alimentar sustentável. O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 12 aborda o consumo e a produção responsáveis, incluindo indicadores para medir (e eventualmente reduzir) a perda global de alimentos e o desperdício alimentar.

Para resolver o problema do desperdício alimentar de forma eficaz, é necessária uma mudança fundamental em direção a uma economia mais sustentável, que priorize a produção e o consumo responsáveis em vez do lucro a todo o custo, como é visível nos sistemas capitalistas e de consumismo. É crucial adotar políticas que incentivem a produção de alimentos de forma mais eficiente que promovam a distribuição justa de alimentos e reduzam o desperdício em toda a cadeia de abastecimento. Além disso, uma mudança cultural em direção a valores de simplicidade, sustentabilidade e equidade é essencial para reduzir o desperdício alimentar e criar um futuro mais justo e habitável para todos.

 

UE

Na União Europeia (UE), o desperdício alimentar é uma preocupação crescente, pois aumenta o risco de insegurança alimentar e afeta o meio ambiente. A UE está comprometida em cumprir o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas de reduzir pela metade o desperdício alimentar per capita até 2030. Globalmente, aproximadamente um terço de todos os alimentos produzidos são perdidos ou desperdiçados. Na UE, isso traduz-se em quase 59 milhões de toneladas de alimentos desperdiçados anualmente, equivalendo a 131 kg por pessoa por ano.

A UE e seus Estados-Membros adotaram medidas específicas:

– Reduzir a quantidade de alimentos perdidos durante a produção e a distribuição.

– Diminuir o desperdício alimentar das famílias.

– Incentivar a doação de alimentos.

– Monitorizar e avaliar a execução das medidas da UE de prevenção do desperdício alimentar.

– Reorientar os excedentes alimentares para a produção de alimentos para animais ou composto.

– Estabelecer diretrizes para a doação de alimentos.

 

Para concluir, o desperdício alimentar é um problema global que contribui para a crise da fome e causa danos significativos no meio ambiente. Enquanto toneladas de alimentos são desperdiçadas anualmente, milhões de pessoas em todo o mundo passam fome. Além disso, o impacto ambiental do desperdício alimentar é enorme, com emissões de gases de efeito estufa e o uso ineficiente de recursos naturais. Para resolver esta questão, é necessário um esforço conjunto em todos os níveis, desde políticas, governamentais até ações individuais. A mudança para uma economia mais sustentável e a adoção de práticas de consumo responsáveis são essenciais para garantir um futuro alimentar equitativo e sustentável para todos. Pequenas mudanças nas nossas escolhas diárias podem criar um mundo onde todos têm o suficiente. Este problema é muito complexo, mas com ações individuais podemos fazer uma diferença. Não nos podemos deixar levar pela tentação de comprar algo que não necessitamos apenas pelo marketing apelativo ou pela simples vontade de consumir, é necessário sermos racionais e pensarmos nas graves consequências que as nossas ações que mais parecem insignificantes têm no mundo em que vivemos. Este assunto é muito sério e infelizmente não é tratado como tal, mas acredito que quanta mais consciencialização, mais perto estamos de alcançar a sustentabilidade que tanto necessitamos.

 

Jornal Estadão.

 

Referências:

https://www.consilium.europa.eu/pt/policies/food-losses-waste/

https://www.iberdrola.com/sustentabilidade/comprometidos-objetivos-desenvolvimento-sustentavel/ods-12-producao-e-consumo-sustentaveis

https://www.fpcardiologia.pt/desperdicio-alimentar/

https://www.theworldcounts.com/challenges/people-and-poverty/hunger-and-obesity/food-waste-statistics

https://www.greenmatch.co.uk/food-waste

Artigo escrito pela voluntária Elisa Mascarenhas.

O meu nome é Elisa Mascarenhas, tenho 20 anos e sou portuguesa. Estudo direito global na Tilburg University, na Holanda, com o objetivo de futuramente trabalhar na área de Direitos Humanos, concentrando-me em Direito Humanitário e crimes de guerra. O meu interesse por direitos humanos foi despertado durante o meu período de estudos no United World College of the Adriatic (UWC Adriatic), onde criei grande cumplicidade com pessoas de diversas nacionalidades, e através da convivência com amigos refugiados e migrantes tomei consciência da necessidade premente de ação e dedicação no âmbito dos Direitos Humanos.

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