A imagem da mulher tem sido, ao longo dos séculos, moldada significativa e negativamente por princípios de cariz político e religioso que, originando estereótipos e preconceitos, têm definido a forma como a mulher é encarada e lhe é permitido inserir-se na sociedade.
A discriminação de género, o assédio e a violência são os principais meios a que a sociedade recorre para pôr em causa as capacidades e integridade (física) das mulheres; no entanto, o nível de vulnerabilidade de cada uma diferirá consoante a estrutura social, país, e, ainda, continente em que ela viva.
Bastará ser mulher para lhe serem reconhecidos todos os seus devidos direitos, e ser tratada de forma igual não só entre homens, mas também, entre mulheres? Será preciso estarem inseridas numa sociedade e corresponder imediatamente ao que é definido como o padrão geral para lhes serem reconhecidos esses direitos?
Foto: Signe Leth
A colonização impôs princípios e valores católicos e ocidentais que, inevitavelmente, vieram conflituar e destabilizar a ordem das comunidades indígenas existentes. O papel da mulher como mãe e dona de casa que deve incontestável obediência ao marido, segundo a interpretação religiosa, em nada teria a ver com a organização hierárquica e princípios intrínsecos a certas comunidades.
Os valores e hábitos ocidentais que foram introduzidos nas aldeias e comunidades indígenas alteraram a hierarquia naturalmente existente, e afetaram os comportamentos e hábitos sociofamiliares através, por exemplo, da introdução de bebidas alcoólicas, aumentando os casos de violência doméstica e contribuindo para a insegurança da mulher na sua própria comunidade.
Ao mesmo tempo, a discriminação fora das aldeias é agravada pelo preconceito e pela hipersexualização da figura feminina indígena – o que, para além de ainda traduzir uma fixação à narrativa colonial, impede a mulher indígena de integrar a sociedade de forma autêntica e sem exigências de adaptação discriminatórias – como a renúncia a vestuário e costumes tradicionais.
Os estudos indicam que as mulheres e crianças indígenas estão mais suscetíveis a sofrer alguma forma de violência sexual, engravidar na adolescência, sofrer de doenças sexualmente transmissíveis, e, até, morrer a dar à luz do que mulheres e crianças não indígenas. Simultaneamente, os relatos de violações, desaparecimentos e homicídios de mulheres e crianças indígenas não são, a grande maioria das vezes, investigados ou tidos em consideração pelas autoridades – o que evidencia e acentua a forma discriminatória como as comunidades indígenas são consideradas pelas comunidades maioritárias.
Apesar de a vulnerabilidade já inerente ao ser mulher se agravar por serem mulheres indígenas, estas mulheres continuam a lutar pelos seus direitos, pelas suas famílias e pela preservação dos seus territórios, desempenhando papéis importantes nas suas comunidades ao promoverem a paz e preservarem práticas cultuais e tradicionais, que as tornam exemplos de coragem, liderança e perseverança.
Referências:
Feminismo Indígena: https://www.youtube.com/watch?v=uZvNpKn0lfg
Violence against Indigenous women: a global challenge https://www.iwgia.org/en/news/4863- violence-against-indigenous-women-a-global-challenge.html
Imagem de capa: Apib Comunicação, CC BY-SA 2.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.0, via Wikimedia Commons
Artigo escrito pela voluntária Inês Penteado.
Chamo-me Inês, tenho 22 anos, e estou a licenciar-me em Relações Internacionais. Interesso-me pelos direitos humanos e ambientais, e acredito que conhecer as histórias de cada um sejam as formas mais autênticas para conhecer o mundo.