Foto: Majid Asgaripour – WANA via Reuters
Mahsa Amini, proveniente da região do Curdistão (noroeste), foi detida com violência pela “polícia da moralidade” aquando uma visita à família, em Teerão. A razão: alegado não cumprimento das regras de uso do hijab.
Após a sua detenção as autoridades informaram a família que a jovem seria levada para um centro de “reeducação” e seria libertada mais tarde naquela noite. Morreu três dias depois, alegadamente, de ataque cardíaco. A família nega historial de problemas cardíacos e acredita que a Mahsa foi torturada até à morte. Várias evidências corroboram as suas declarações, incluindo, fotografias, vídeos e testemunhos de outras mulheres detidas no mesmo dia.
“A causa do acidente é clara como o dia”, disse o tio de Amini: “O que acontece quando a polícia agarra as mulheres e as coloca no carro com tanta agressividade e violência? Com que direito? Eles não sabem nada sobre o Islão, nem sobre a humanidade.”
A sua morte está a desencadear uma onda de protestos e indignação em todo o mundo, mas principalmente no Irão onde milhares de homens e mulheres saíram à rua nos últimos dias. Vídeos nas redes sociais mostram mulheres a cortar o cabelo, a queimar os hijabs, veículos da polícia a serem destruídos enquanto se gritam as palavras: ” Morte ao Ditador”.
A intensidade dos protestos é alimentada não só pela indignação pela morte da jovem, mas também por décadas de opressão e repressão estatal: “Desta vez, os/as manifestantes não estão apenas a pedir justiça para Mahsa Amini”, disse Hadi Ghaemi, diretor executivo do Centro de Direitos Humanos do Irão – “Os/as protestantes também estão a exigir os direitos das mulheres, os seus direitos civis e humanos, por uma vida sem uma ditadura religiosa.”
No funeral de Amini no sábado, as mulheres removeram os lenços da cabeça em solidariedade. No seu túmulo lia-se: “Não morrerás. O teu nome tornar-se-à um nome de código”.
A “polícia da moralidade” do Irão: o que é?
A “polícia da moralidade” do Irão, também conhecida como polícia anti-vício, sujeita mulheres – por vezes homens – a detenção em centros “reeducativos” por não cumprirem as regras do estado sobre a modéstia. Dentro das instalações, as pessoas detidas recebem aulas sobre o Islão e a importância do hijab e depois são forçadas a assinar um compromisso de cumprir os regulamentos de vestuário do estado antes de serem libertados/as.
O Irão já ditava às mulheres como elas se deveriam vestir e comportar muito antes do estabelecimento da atual República Islâmica. Em 1936, o governante pró-ocidental Reza Shah proibiu o uso de todos os véus e lenços na cabeça num esforço para modernizar o país. Muitas mulheres resistiram. Em 1979 o regime islâmico derrubou o Shah e tornou o hijab obrigatório, mais uma vez, privando as mulheres da liberdade de escolha.
Demonstramos a nossa solidariedade e apoio ao povo iraniano em especial às mulheres na sua luta pelos seus direitos e liberdades. Que a morte da jovem Mahsa não passe impune e sirva de alerta para a importância de agirmos e insurgirmo-nos contra a opressão em todas as suas vertentes e em todos os seus lugares.
Para aprofundar:
Factbox: Death of young Iranian woman puts spotlight on morality police
Iran’s morality police have terrorized women for decades. Who are they?
Morte de Mahsa Amini. Iranianas queimam véus e cortam cabelos em protesto
Iranian women burn their hijabs as hundreds protest death of Mahsa Amini
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Mahsa Amini’s Father: “Everything They Have Said and Shown is Lies”