OMS decreta o fim da emergência da COVID-19, mas e a África?

A girl from Ethiopia gets vaccinated.

Com o fim da emergência da COVID-19 mudam-se as estratégias de enfrentamento da doença. Com mais tranquilidade, os países focam-se na vacinação e no manejo da enfermidade, mas, enquanto isso, como está a situação africana?

FIM DA EMERGÊNCIA DA COVID-19

No dia 05 de maio 2023, Tedros Adhanom, diretor geral da Organização Mundial da Saúde, declarou o fim da emergência de saúde pública ligada à COVID. A decisão foi tomada após uma longa análise por parte da organização, que observou uma queda contínua nos casos de hospitalização, contágio e mortes em razão da doença, o que Adhanom associa ao aumento da imunidade populacional e eficiência das vacinas.
O fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional, mais alto grau de alerta, não significa o fim da pandemia, que continua a fazer vítimas fatais e oferece riscos futuros por meio de possíveis mutações, mas sim a mudança nos protocolos de enfrentamento que saem do modo de emergência e passam para o modo de manejo da COVID.
Jarbas Barbosa, diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), concordou com a decisão da OMS, mas ressalta que o momento é de vigilância, vacinação e preparo para futuros desafios.

A SITUAÇÃO AFRICANA
Casos e mortes
Contrariando todos os prognósticos, o continente africano não atingiu os altos números de mortes previstos pelas organizações internacionais, obtendo os números mais baixos em escala global. O continente africano apresentou pouco mais de 175mil mortes, enquanto a América e a Europa somaram mais de 5milhões de óbitos. As organizações internacionais presumem que, ainda que haja algum nível de subnotificação, os números africanos não ultrapassariam os outros continentes.
O fenômeno ocorrido na África, segundo Augusto da Silva, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), se deve à faixa-etária pouco elevada e ao escasso contato entre os países da região, o que impediu um maior número de contágios, e de mortes, consequentemente.


Vacinação e desigualdades
Ainda com o declínio nos números da COVID, a vacinação ainda é a chave para proteger a população contra casos severos e mortes pela infecção. Porém, já em 2021 John Nkengasong, diretor do centro africano de controle e prevenção de doenças, já criticava a escassa oferta de vacinas para o continente africano.
A desigualdade vacinal foi duramente criticada novamente pelo presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, durante a Cúpula do Novo Pacto de Desenvolvimento Global, ocorrida em junho deste ano em Paris. Durante a reunião, o presidente definiu a disponibilidade como “migalhas na mesa” e apontou que “Os países do hemisfério norte compraram todas as vacinas do mundo, as monopolizaram e não quiseram liberá-las no momento em que mais precisávamos.”
Além da morosidade inicial e escassez, o continente africano ainda enfrenta desafios logísticos para vacinar a população. Esse obstáculo ainda é acentuado pelo endividamento dos países do continente, o que resultou em acordos firmados com o Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional que, por sua vez, exigem que quaisquer gastos sejam negociados com os credores, o que acarreta lentidão, desfalque de pessoal, e falta de investimento logístico.

Como resultado deste panorama temos a África com os piores níveis de vacinação em esfera continental:

WHO COVID-19 Dashboard. Geneva: World Health Organization, 2020. Available online:https://covid19.who.int/


Este cenário, bem como o histórico de enfrentamento e cooperação durante a pandemia, escancaram as desigualdades que perpassam a comunidade internacional e que acabam por agravar as vulnerabilidades da população africana.


Artigo escrito pela nossa voluntária Andressa Gomes
Licenciada em história, pós-graduada em relações internacionais e mestre em segurança e defesa. Brasileira e imigrante. Interessada em direitos humanos e apaixonada por aprender enquanto viaja. Atualmente vive no Porto, Portugal.

Fontes:

Agência Brasil. Vacinação contra a covid-19 não chegou a mais de 70% dos africanos. Os parcialmente vacinados somam 29%, diz CDC África. 08 de janeiro de 2023. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2023-01/vacinacao-contra-covid-19-nao-chegou-mais-de-70-dos-africanos.

Correio Braziliense. “Migalhas na mesa”, diz presidente africano sobre venda de vacinas da covid. 05 de julho de 2023. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2023/07/5106968-migalhas-na-mesa-diz-presidente-africano-sobre-venda-de-vacinas-da-covid.html.

Organização Pan-Americana de Saúde. OMS declara fim da emergência da saúde pública de importância internacional referente à COVID-19. 05 de maio de 2023. Disponível em:

https://www.paho.org/pt/noticias/5-5-2023-oms-declara-fim-da-emergencia-saude-publica-importancia-internacional-referente

World Health Organization. COVID-19 Response in Africa bulletin. Situation and Response in the WHO AFRO Region. 13 de julho de 2023. Disponível em: https://www.afro.who.int/sites/default/files/2023-07/WHO%20AFRO%20COVID_19_RESPONSE%20QUARTERLY%20Bulletin.pdf

World Health Organization. WHO Coronavirus (COVID-19) Dashboard. Disponível em: https://covid19.who.int.

World Health Organization. WHO Director-General’s opening remarks at the media briefing. 05 de maio de 2023. Disponível em:

https://www.who.int/news-room/speeches/item/who-director-general-s-opening-remarks-at-the-media-briefing—5-may-2023

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