Palestina Ocupada: ataques violentos de Israel em Jenin deixam um rastro de morte e destruição

Durante os últimos dois dias, milhares de pessoas ficaram desalojadas no campo de refugiados/as de Jenin, após Israel lançar um dos seus maiores ataques aéreos, em 20 anos, na Cisjordânia Ocupada. Na ocasião, 13 pessoas palestinianas e um soldado israelita teriam morrido nos confrontos.

O ministério da saúde palestiniano confirmou que três adolescentes – dois rapazes de 17 anos e um de 16 anos – estavam entre os mortos, alertando também que os danos à infraestrutura significavam que a maior parte do campo agora não tinha água potável nem eletricidade.

Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) disse que as ambulâncias palestinianas foram impedidas de entrar em partes do campo, incluindo para tratar as pessoas feridas. O ministério da saúde afirmou que mais de 140 pessoas palestinianas ficaram feridas, sendo 30 em estado crítico.

Legenda: Palestinos mortos pelas forças israelenses durante a invasão do campo de refugiados/as de Jenin. Fonte: Eye.on.palestine

“Entraram nas nossas casas na rua al-Mayhoub ontem à tarde. […] Começaram a gritar connosco: ‘Não falem, fiquem calados, sentem-se’, disse Nathmiyeh Mer’i, de 53 anos, à Al Jazeera. Os seus três netos – com um, três e quatro anos – ficaram “abalados”. “Tentei distraí-los, brincar com eles”, acrescentou. Lá fora, podiam ouvir aeronaves militares e o som de bombardeamentos. “Onde quer que atinja, atinge. […] Esta é a segunda vez que deixamos o campo e é a terceira vez que somos deslocados desde a Nakba. O que eles querem de nós?”, relatou Mer’i.

Ainda durante este ataque, vários jornalistas foram alvejados, cercados e, pelo menos, um deles ficou ferido. A incursão ocorreu perto do local onde a veterana jornalista da Al Jazeera, Shireen Abu Akleh, foi morta a tiro. Várias ambulâncias também foram alvo de disparos com munição real e, inicialmente, foram impedidas de aceder às pessoas feridas.

O Exército israelita justificou o ataque de segunda e terça-feira em Jenin, na Cisjordânia, com o objetivo de impedir que a região seja um porto seguro para “terroristas” devido ao aumento da violência recente. No entanto, o primeiro-ministro palestiniano, Mohammad Shtayyeh, afirmou que “o povo palestiniano tem o direito à autodefesa”, um direito que “uma potência ocupante não possui”.

O campo de pessoas refugiadas de Jenin

Jenin é uma cidade localizada no coração da Cisjordânia e abriga um campo de refugiados/as estabelecido em 1953. O objetivo inicial desse campo era acolher as pessoas palestinianas que foram expulsas durante a Nakba –  também conhecida como a grande catástrofe –  ocorrido em 1948. Naquela época, cerca de 750.000 pessoas foram violentamente expulsas das suas casas para dar lugar ao estabelecimento de Israel. O campo de refugiados/as de Jenin tem uma área de meio quilómetro quadrado e abriga aproximadamente 13.000 pessoas. A maioria vive em condições de pobreza e desemprego. 

O campo tem sido palco de muita agitação ao longo de décadas e quase foi destruído em 2002, quando soldados israelitas o emboscaram durante a segunda Intifada – uma das revoltas palestinianas em massa contra a ocupação israelita. Na altura, pelo menos 52 pessoas da Palestina, incluindo mulheres e crianças, foram mortas, de acordo com uma investigação da Human Rights Watch (HRW). 

Jenin tem sido alvo de ataques intensificados por parte das forças israelitas, especialmente desde 2021, uma vez que se tornou, juntamente com Gaza, um importante símbolo da resistência palestiniana.

Diante da agressão contínua de Israel, as pessoas palestinianas reagiram com indignação, afirmando que a resistência palestiniana não permitirá que Jenin seja isolada na sua luta contra a ocupação israelita.

Antes da retirada das tropas, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que a missão estava a ser concluída e prometeu levar a cabo operações semelhantes, se necessário. Finda a operação, os militares israelitas filmaram armas e alegados materiais de fabrico de bombas, que dizem ter encontrado em Jenin e que usaram como prova justificativa do violento ataque.

Gaza respondeu com o disparo de mísseis contra Israel, que ripostou com novos ataques aéreos.

Reações internacionais

A comunidade internacional expressou preocupação com a escalada da violência. A coordenadora humanitária da ONU na Palestina, Lynn Hastings, pediu acesso às pessoas feridas e condenou o uso de ataques aéreos em áreas densamente povoadas.

A violência de Israel tem escalado de forma incontrolável nos últimos anos. Só em 2022, as forças israelitas mataram mais de 170 pessoas, incluindo pelo menos 30 crianças, em Jerusalém Oriental ocupada e na Cisjordânia. Esse ano foi descrito como o mais mortal para as pessoas palestinianas que vivem nessas áreas desde 2006. Desde o início de 2023, as forças israelitas já mataram pelo menos 160 pessoas palestinianas, incluindo 26 crianças. 

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, elogiou as relações de segurança com os Estados Unidos e o apoio norte-americano a um ataque mortal, afirmando que isto demonstra que “a cooperação em segurança [com os EUA] nunca foi melhor”.

Mais uma vez, percebe-se a impunidade com que Israel realiza ataques violentos contra a população e a terra Palestina, numa tentativa de silenciar, oprimir e reprimir a identidade do seu Povo. À violência indescritível e rotineira destas ações junta-se a conivência e inação dos Estados Europeus e de outros Continentes que continuam a ter relações políticas e económicas com o Estado de Israel ao invés de o sancionar e culpabilizar pelos seus atos terroristas e criminosos. É preciso quebrar o silêncio que existe à volta da ocupação da Palestina e exigir que Israel seja responsabilizado pelos seus atos e termine com o apartheid e a ocupação que exerce sobre as Terras Palestinas desde a sua criação em 1948.

Fontes:

Jenin attack live: Funerals held after Israel ends 2-day raid | Israel-Palestine conflict News | Al Jazeera

Israeli forces withdraw from Jenin as rockets fired from Gaza | Palestinian territories | The Guardian

Operação militar de Israel em Jenin cumpriu “todos os objetivos” – Mundo – SÁBADO

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Gaza-Israel exchange of fire as Israeli forces complete Jenin withdrawal – BBC News

Why did Israel attack Jenin? West Bank operation explained | Reuters

Jenin: Eight Palestinians killed as Israel bombs West Bank city in large offensive

Gaza-Israel exchange of fire as Israeli forces complete Jenin withdrawal – BBC News

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